Pela Família - Leitura de Vida Passada

Tema motivo das dificuldades na vida financeira.

 

Os eventos.

Um escravo negro, acorrentado pelo pescoço e mãos amarradas, uma praia, mercadores de escravos, navio negreiro.

Não compreendia o horror pelo qual estavam passando, homens, mulheres e até crianças de tribos diferentes lançados na escuridão. O cheiro de suor, urina e fezes empestava o ar, alguns adoeceram outros morreram naquele lugar. Ouvia o choro e o desespero dos irmãos. Ele mesmo estava amedrontado. Desciam comida por um buraco no teto que era disputada com ferocidade por todos. Não sabia quantas luas ficaram naquele balanço que enjoava e fazia muitos vomitarem, tornando o lugar ainda mais sujo.

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Passou a ouvir barulhos diferentes, muitas vozes numa língua que não conhecia, uma porta foi aberta e dois homens desceram pela escada e fizeram os negros saírem do porão. O que surgiu aos seus olhos nunca tinham visto, aquilo devia ser a tribo dos brancos, eles eram muitos, as casas altas, navios de vários tamanhos lado a lado.

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Aos empurrões eles foram obrigados a descerem, o medo e o espanto estampados em seus rostos. Foram colocados (*usarei os termos que conheço, pois o personagem não sabe denominar os locais ou objetos) numa praça, todos acorrentados uns aos outros. Começaram as vendas. Homens brancos vestidos de forma incomum chegavam perto, os avaliavam e os compravam. Ele não entendia ainda o que acontecia, não tinha ideia do que o esperava. Foi comprado por um branco alto, forte e mal encarado, colocado em um carro de bois que o levou ao seu próximo cativeiro; a fazenda de café.

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Ainda acorrentado e lançado na senzala outro negro veio falar com ele procurando saber o seu dialeto para buscar entre os outros escravos quem tivesse capacidade de conversar com o recém-chegado. Ele não entendia aquelas pessoas, como bicho preso desconfiava de todas, mesmo os da sua raça. Finalmente surgiu um negro mais velho que com dificuldade de comunicação explicou a situação ao novato. Seu coração explodiu numa mistura de ódio, medo e revolta. Afirmou que sairia dali! O outro negro sorriu triste disse-lhe que existia uma grande água entre à terra de onde viera e esse lugar, que os brancos tinham navios que conseguiam atravessá-la e eles não, seriam escravos até o fim de suas vidas e nada podiam fazer para mudar isso.

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O tempo mostrou o quanto ele estava certo. Alguns anos depois já no trabalho da lavoura conhecia o destino de todos eles, a violência, a desumanidade com que eram tratados. Contudo, jamais desistira do sonho da liberdade e se não podia voltar para seu lugar, criaria ali um lugar dele.

Alguns negros tinham regalias como os reprodutores e os delatores que informavam qualquer movimento perigoso para seus proprietários. 

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Envolvera-se com uma mulher já mãe de um menino e queria sair da senzala. Tornou-se o melhor escravo para o amo, fazia sempre mais do que os outros, tornando-se desprezado pelos seus. O ápice dessa situação foi quando denunciou uma revolta que estava se armando na fazenda isso lhe concedeu o cargo de auxiliar de capataz e o ganho de um casebre na fazenda para si, a esposa e os filhos. Sentia-se um pouco melhor, mas deseja “subir” e assumir o cargo do capataz. O destino feito, capataz assassinado e ele assume o cargo.

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Tinha consciência das dores dos irmãos e quando podia os ajudava, sem jamais prejudicar o senhor. Em primeiro lugar vinha a sua família e não correria risco de perder o que tinham. Uma hora era o capataz incapaz de piedade em outra hora alguém que ajudava a minimizar as dores da senzala.

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O outro, era mais jovem e mais esperto, ele sabia disso, desde que era pequeno dava trabalho. Era uma alma livre e desejosa de libertação, ao crescer se tornara um homem carismático, os outros escravos o ouviam falar de sonhos. Sim, de sonhos, pois o que aquele jovem falava era somente isso ilusão! Sempre estava atento aos passos dele, parecia ser uma sombra do mesmo. Atento, não deixaria que ele prejudicasse seu trabalho e seu status.

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Seus medos se tornaram realidade, o jovem maquinara uma revolta na fazenda. Essa noite foi o inferno, negros armados com instrumentos agrícolas contra homens com armas de fogo, depois a luta corpo a corpo, a defesa da casa grande, matar os irmãos de cor para defender o escravista. Ele pensava na sua família, como a tirara da senzala, nos filhos que nunca foram ao tronco, na mulher que não passara pelas mãos dos brancos, nos recursos que angariara para que não sofressem de fome e frio. Isso o fazia lutar vigorosamente. Cada negro abatido ou posto fora de combate era um elemento de sustentação da sua situação e dos seus.

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No escuro alguém o atacou pelas costas, rapidamente acostumado com a luta, lançou o oponente ao chão e cravou-lhe a faca.

O caído murmurou… pai.

Seu mundo desmoronou tudo o que construíra estava findo, seu filho morto pelas suas mãos. Com o coração dilacerado perguntava-se como podia ser aquilo? Vendera seus valores pela segurança e agora como poderia olhar para sua família? Valeu trocar seus sonhos de liberdade? Valeu fazer tudo o que fizera? 

Um tiro resolveu sua questão, outro negro apossado de uma arma de fogo, extingue sua vida. 

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"Um home retirado da sua cultura, escravizado, ultrajado tenta se manter em uma posição que acha digna para si e para os seus. Esquecendo os valores morais de sua juventude em troca de uma pseudo segurança material. Imaginado que se a tivesse poderia ser mais feliz e fazer o bem aos que amava, subtraindo-lhes as dores da escravidão, da fome e do frio".

 

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 “A consciência nos dá o poder da mudança”.

A leitura de vidas passada é realizada à distância. Pelo trabalho pedimos uma pequena contribuição que será revertida na compra de cestas básicas para doação a famílias carentes.

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Facilitadora: Mallika Fittipaldi.

Entre em contato. 81. 996212409

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